sábado, 7 de junho de 2008

Retratos de Familia.

É interessante ver fotos de familia, todos parecem sempre tão contentes, felizes, unidos e companheiros. Não importam as desavenças, as brigas, desacordos e raivas da convivência. Não importa nada, porque o que marca é o sorriso estampado no rosto de todos no momento do flash, mesmo que antes tenha rolado aquele fight, a briga pelo doce da mesa do aniversário entre os sobrinhos, o tio ou pai que bebeu a mais da conta e está enchendo todo mundo. A briga na escolha do restaurante e o 'não' que os pais dão a voce, por querer sair mais cedo do batizado e se encontrar com o namorado que está para viajar e que voce não verá por 1 mês.
As fotos não mentem jamais. O sorriso está ali, ele registra e afirma somente as coisas boas da companhia familiar. E a beleza? Gente arrumadinha, engomadinha e maquiada. As pessoas sempre parecem tão limpas em fotos. O sapato novo, a roupa que acaba de ser estreada e os brincos caríssimos que nem foram pagos ainda, também marcam presença.
Estava olhando uma foto de infância, no meu aniversário de 6 anos. Estamos minha prima e eu, lado a lado de vestidinho, meias e sapatos de boneca. Eu de azul e ela de amarelo. Estamos sorrindo, abraçadas. Quem imaginaria que segundos antes daquela linda fotografia, nós tivemos uma briga em que quase arrancamos o cabelo uma da outra? E melhor, ficamos sem nos falar por horas (isso é quase uma eternidade na vida de uma criança).
Aah...o momento congelado.
Em familia ninguém quer registrar o ruim, o feio, o real. A gente quer o bonito, a alegria, a lembrança boa que vamos carregar.
Toda familia tem sua anomalia. De perto são todas estranhas e cheias de pequenos segredos, esqueletos nos armários de cada quarto da casa em que vivem.

Os retratos são feitos para nos enganar, alteram até mesmo nossa lembrança. Eles embelezam os momentos cristalizados e fazem das nossas memórias boas.
Engraçado como a memória funciona, ela sempre ameniza a dor, o sofrimento e diminui a alegria, já notaram?
Um momento de extrema felicidade é lembrado como bom, não experimentamos nem um terço da mesma sensação quando lembramos,tal qual uma lembrança ruim, que também não nos dá o mesmo gosto amargo do momento recordado ( graças aos céus).
Que coisa...será que os retratos imitam nossa mente nesse quesito?
Acho que vão além, eles conseguem dar brilho e alegria a momentos medianos da existência, de muitas que jamais experimentarão esse tal brilho ou essa abstrata e intocada alegria.
Se isso é bom ou ruim eu não sei...que me diga Roland Barthes.

Miss Joe estava ouvindo - Essa moça tá diferente *Bossa Cucanova - Simoninha*

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